Notícia

Sondagens Políticas: O problema das projeções

É a solução para quem deseja ou precisa de conhecer com rigor o pensar e sentir dos cidadãos

18 de agosto, 2015
Com o aproximar das eleições partidos, dirigentes e militantes mais ativos procuram saber tudo sobre as sondagens, procurando ver aí os resultados esperados.

Quando as sondagens não batem certo com os resultados, caso, por exemplo, das eleições de maio passado no Reino Unido, logo surge um coro de protestos e de surpresa.
O problema maior das sondagens pré-eleitorais resulta das fórmulas adotadas para projetar os indecisos, os que não respondem ou dizem não saber ainda em quem votar.

Estas fórmulas matemáticas variam de empresa para empresa e raramente são explicadas com o mínimo de transparência. É no cozinhar das projeções que está o busílis da questão.

Confunde-se na sondagem a fotografia e a previsão. A sondagem é sobretudo uma imagem de retrovisor ou um instantâneo, quase nunca um elemento prospetivo. Mas a investigação é vista normalmente por esta última dimensão. Dominique Wolton, in Penser la Communication

Analisemos um caso agora chegado de Espanha.

O Centro de Investigación Sociológico (CIS) é uma organização do estado espanhol, que faz sondagens periódicas. Há alguns anos tive a oportunidade fazer um curso sobre estudos de opinião neste centro sediado em Madrid e vim de lá satisfeito com o que aprendi e com o rigor da metodologia que os investigadores do CIS defendiam.

O CIS realiza quatro grandes sondagens com amostras de 2500 indivíduos, de quatro em quatro meses.

A sondagem de Julho de 2015 acaba de ser divulgada. Dado o aproximar das eleições nacionais em Espanha, ainda não estão marcadas, mas devem ser em Dezembro deste ano, os resultados agora apresentados são vistos com enorme atenção.

Ao ver atentamente todos as respostas das diversas perguntas, concluí que o PSOE aparece à frente nas intenções de voto dos espanhóis e é o favorito para ganhar as próximas eleições. Contudo, não é esta a conclusão do CIS. Bem pelo contrário, esta prestigiada organização de investigação assume a vitória do PP e toda a comunicação social espanhola deu ênfase a tal facto.

Vejamos os números que nos são dados pelo CIS referentes às quatro principais forças políticas. Com a projeção dos indecisos os resultados são os seguintes:

PP ---------------> 28,2%
PSOE -----------> 24,9%
Podemos -----> 15,7%
Ciudadanos --> 11,1%

Na intenção de voto direto, ainda antes da projeção, as mesmas organizações políticas têm os seguintes resultados:

PP ---------------> 16%
PSOE -----------> 17,3%
Podemos -----> 12,6%
Ciudadanos --> 7,7%

Ou seja, o PP, de segundo na intenção direta de voto, passa para primeiro, deixando o PSOE a 3,3 pontos percentuais.

O CIS não explica que fórmula utilizou para cozinhar este resultado de projeção, apenas sublinha que se fossem usadas outras variáveis matemáticas se poderia chegar a resultados diferentes.

O caso é ainda mais estranho, quando se verifica, que à pergunta com qual partido os espanhóis mais simpatizam, o PSOE surge com 22,2% de simpatia e o PP com 17,1%.

Em termos de reputação o líder do PSOE é melhor valorado que o líder do PP.

Apenas na pergunta quem ganhará as próximas eleições o PP ganha ao PSOE com uma vantagem de 17,9 pontos percentuais. Mas na pergunta quem gostaria que ganhasse o PSOE volta a surgir à frente do PP.

Com estes dados, defendo que a tendência, neste momento, é no sentido do PSOE vencer as próximas eleições legislativas em Espanha, ao contrário do que indica o CIS, na sua projeção. Em Dezembro e só aí, se as coisas correrem com normalidade, é que saberemos.

A não transparência da fórmula e variáveis utilizadas para fazer a projeção de resultados, contribui para o descrédito das sondagens e explica as diferenças de resultados entre os vários Institutos de Sondagens.


Importa ter em conta

As sondagens ou estudos de opinião são, antes de mais, instrumentos de investigação que permitem conhecer o pensar e o sentir dos diversos públicos de determinado espaço. As sondagens evidenciam o clima da opinião pública face à atualidade e aos acontecimentos. Permitem segmentar a opinião pública em termos culturais e ideológicos e medir a influência das infraestruturas socioculturais, religiosas, económicas e outras nas posições dos públicos face ao momento atual.

Entendemos os públicos como sinónimo de gente, quer dizer, a totalidade dos membros que formam uma comunidade, um país, uma sociedade. Embora, quando se fala de espaço público, no conceito de Habermas, se considere, público como corpos de cidadãos adultos, que se interessam pelos assuntos públicos.

Pode definir-se a sondagem como uma investigação realizada sobre uma amostra de sujeitos representativa de um coletivo num determinado espaço, quer dizer, universo, num contexto de vida cotidiana, num tempo definido, utilizando elementos testados de perguntas, questionário, com o objetivo de obter dados quantitativos de várias caraterísticas objetivas e sobretudo subjetivas da população.

É essencial observar as regras da investigação na construção do questionário, na definição da amostra e na supervisão das entrevistas. Digamos que os Institutos de Sondagens seguem com rigor tais normas.

A sondagem pode ser um instrumento de trabalho de grande importância. O gestor público ou responsável pública tem aí dados que lhe permite melhorar a sua ação, nomeadamente numa lógica de governança. Uma sondagem permite tomar e alterar opções de políticas públicas, indo de encontro ao que os cidadãos querem ou desejam.


Sondagem Solução ou Problema?

A sondagem é solução para quem deseja ou precisa de conhecer com rigor o pensar e sentir dos cidadãos em determinado momento. Dá indicações sociopolíticas de grande relevância. Conhecer os pensamentos e os sentimentos dominantes da opinião pública permite atuar com segurança e tranquilidade.

Aquilo que pensa e sente a opinião pública não é mesmo que tirar conclusões a partir do que pensa a nossa rede de familiares, amigos e conhecidos. A tendência é de atuar nesta lógica. Os media em geral ao entrevistarem meia dúzia de pessoas e logo dizerem os portugueses pensam ou sentem assim, contribuem para esta ideia profundamente errada e manipuladora.

A sondagem é um problema quando com os seus dados se pretende projetar o futuro. A sondagem vale no momento exato em que é feita. Noutro tempo, com outros acontecimentos os resultados serão necessariamente outros. É uma fotografia datada. Não é um oráculo, nem uma previsão. Na política é fácil defender isto, quando a nossa organização aparece a perder. Difícil é para quem surge a ganhar, porque a tendência natural é assumir que esse será o resultado final.

A ideia de que há um segmento de eleitores que tendem a seguir quem aparece com hipóteses de ganhar, leva a tentativas de manipulação de resultados. Assim como as mudanças na opinião pública ocorrem de forma lenta e em graus mínimos, também é normalmente irrelevante a influência dos resultados de uma sondagem sobre os eleitores.

Por Custódio Oliveira
Director-Geral da Omnisinal e Consultor de Comunicação

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