Notícia

Google Maps para o cérebro criado por um Português

Software transforma as ressonâncias magnéticas em modelos 3D do cérebro

19 de janeiro, 2016
Google Maps para o cérebro criado por um Português
E se a identificação de uma lesão cerebral tivesse coordenadas tão exactas quanto as que podemos inserir num aparelho de GPS?
Isso permitiria aos médicos fazer diagnósticos mais rigorosos, criando condições para terapias mais eficazes. É a isso que abre a porta um software desenvolvido por Paulo Rodrigues, um informático português de 34 anos.

Esta espécie de “Google Maps do cérebro”, como lhe chama o investigador radicado em Barcelona, gera um mapa 3D do cérebro humano a partir das imagens produzidas durante exames de ressonância magnética.

Apesar de todos os avanços que a tecnologia sofreu nos últimos anos, os médicos não têm capacidade de analisar muita da informação gerada numa ressonância magnética. As imagens obtidas são planas, a duas dimensões. Quando chegam às mãos do neurologista será possível dizer que “há uma lesão nesta ou naquela parte do cérebro”, mas não há uma capacidade de identificação exaustiva do problema existente. Este é um órgão “muito mais complexo do que isto, com centenas de milhares de ligações”, explica Paulo Rodrigues.

Tendo isto em consideração, o que o seu software faz é, a partir das várias imagens obtidas pela ressonância magnética, gerar um mapa a três dimensões de todas as ligações nervosas do cérebro. Este modelo em 3D do cérebro torna-o “mais tangível”. Em vez de uma identificação genérica da área cerebral em que é detectada uma lesão, o médico pode receber um diagnóstico mais preciso: “Há uma lesão com estas coordenadas, com aquele tamanho e determinado volume. Essa lesão faz parte da conexão do circuito motor, que está afectado a 10%”, exemplifica o engenheiro e investigador. Ou seja, com esta inovação é possível localizar e quantificar com exactidão as propriedades do que está errado no cérebro de cada pessoa.

Foi com neste software que Paulo Rodrigues criou, em Abril de 2013, uma empresa – a Mint Labs (abreviatura de Medical Inovation and Technology Laboratories), que funciona em Barcelona, para onde se tinha mudado para fazer o pós-doutoramento. Apesar de encarar o serviço prestado como um negócio, o informático português diz, todavia, que, nesta fase, “não está preocupado em gerar receitas”. A prioridade é pôr este Google Maps do cérebro ao serviço da ciência.

Para isso, a empresa está a colaborar com vários hospitais em Espanha e nos Estados Unidos que fazem investigação clínica, como são exemplos os hospitais universitários Clínic e Bellvitge, na cidade catalã, ou a Universidade da Califórnia São Francisco, nos EUA. “O que nos interessa é tentar ajudar os clínicos a descobrir o que se passa com o cérebro quando tem doenças como a esclerose múltipla, a Parkinson ou a Alzheimer”, afiança Rodrigues.

Para poder ser usada facilmente por médicos e investigadores, a plataforma informática da Mint Labs funciona de forma relativamente simples. Desde logo, não precisa da instalação de qualquer programa informático para que se torna acessível, servindo-se do browser de acesso à Internet como interface. Para efectuar o carregamento das imagens, bastará aos utilizadores arrastar os ficheiros respectivos para o local indicado, num sistema (drag and drop) muito próximo daquele que é usado para ferramentas de partilha de ficheiros como o Drop Box, por exemplo.

A ideia é que fosse possível fazer o processamento das imagens “só com um clique”, explica Paulo Rodrigues. Na prática, são três os passos necessários: depois de feito o upload dos ficheiros, o clínico ou investigador seleciona aquilo que quer saber a partir das imagens digitalizadas que foram carregadas e, passados uns minutos, recebe um relatório com a descrição do cérebro do doente.

Tudo funciona através de computação em nuvem. As imagens das ressonâncias magnéticas carregadas pelos médicos dos centros de investigação parceiros da empresa são guardadas em servidores da Google, com quem a Mint Labs tem um acordo para o armazenamento. Até ao momento, são cerca de 30.000 imagens digitalizadas, que correspondem a 4000 pessoas que se encontram nestes arquivos. O objectivo, ambiciona Paulo Rodrigues, é criar na Internet “a maior base de dados do mundo de imagens cerebrais”.

Por Samuel Silva
publico.pt

Subscreva a nossa newsletter

Mantenha-se atualizado(a) recebendo todas as últimas novidades no seu endereço eletrónico.