Notícia

Pensar a assessoria de comunicação no Século XXI

Artigo por Custódio Oliveira

14 de fevereiro, 2014
A comunicação é o novo ídolo filosófico ou uma inflação da razão: uma palavra que se banaliza e se despe do seu sentido, ou um simples reagrupamento de atividades humanas por vezes apresentadas como disparates? Abraham Moles2
Comunicamos para partilhar, convencer e seduzir, explica Dominique Wolton na sua teoria da comunicação1.

O primeiro grito da criança quando nasce é um ato de comunicação não racional, mas emocional. Logo de seguida, o bebé descobre que os seus gritos e choro despertam atenção e do emocional ao racional vai um pequeno passo. Pode admitir-se que não existe a emoção pura.

O humano é um ser único, em que as células vivem em interação / cooperação e em que a matéria atua relacionalmente com o psíquico.

A comunicação da criança é de uma riqueza imensa. Podemos registar ensinamentos variados:
  • Os atos comunicacionais são subtis e simultaneamente densos, utilizando os canais dos cinco sentidos, de forma isolada ou em conjunto: visão, audição, paladar, tato e olfato expressos no odor, na voz, nos gestos, no tocar, nos olhares e nas mímicas;
  • A interação proporcionada pela comunicação é essencial para o equilíbrio físico e psíquico da criança. Mesmo que bem alimentada a ausência de relação com outros provoca graves distúrbios;
  • A forma como cada criança comunica é única e diferente de todas as outras. Vemos esta realidade no grau de passividade ou de expansão, de simpatia ou de antipatia, de frieza ou de calor humano;
  • A comunicação é um processo interativo. No papel de emissor ou de interlocutor3 a criança é um ser ativo e relacional. Admitir que é passivo para ser “moldado” pelos adultos parece ser um erro;
  • A comunicação é um processo que exige estratégia. A criança sabe utilizá-la desde sempre: se chora e não é atendida, logo chora mais alto.
Carmen Sebastián4 acrescenta que: o ser humano comunica com todo o seu ser. Cada um dos seus atos, gestos e palavras são uma manifestação de quem é e do que quer.

Na sociedade moderna a comunicação está no centro de toda a relação humana. Sem comunicação não é possível a vida em comum. Sem argumentação, articulação, negociação, diálogo é impossível a vivência democrática das sociedades modernas, constituídas por células vivas em interação permanente e global.

Edgar Morin5 pergunta e responde: porque se comunica? Comunica-se para informar e informar-se, conhecer e conhecer-se, explicar e explicar-se, compreender e compreender-se. A esta conceção, poucos anos depois, Wolton acrescenta a dimensão emocional, que poderia dizer-se assim: comunica-se para seduzir e seduzir-se. Esta lógica concecional pressupõe a interatividade entre emissor e interlocutor. Interatividade que exige linguagens comuns ou pelo menos entendíveis pelas partes. A não existência interação e ou de relação entre emissor e interlocutor leva Wolton a concluir pela existência do que chama de incomunicação.

Esta perspetiva não contraria o axioma da Escola de Palo Alto expresso por Paul Watzlawick: é impossível não comunicar. Conceito que abre as portas ao entendimento de que tudo tem valor de mensagem, tudo comunica: palavra ou silêncio, presença ou ausência, ação ou inação…

A esta dimensão acrescenta-se que a comunicação é omnipresente. Encontra-se em toda a parte e desempenha uma função essencial à vida e à ação dos indivíduos, das famílias, das empresas, das escolas, das instituições públicas e privadas, dos governos, dos estados…

Hoje, a comunicação aparece associada aos processos de gestão empresarial, à política, à cultura, ao desporto, à educação…

Encontramos cinco dimensões essenciais da comunicação organizacional quanto à forma e meios que usa: o sistema mediático; a Internet; os meios próprios que cada organização utiliza; a comunicação interpessoal; a comunicação através do discurso.

A comunicação interna ou para públicos internos, a comunicação externa, a comunicação em situações de crise, o planeamento estratégico da comunicação, a ética comunicacional são especificidades importantes de investigação e de praxis.

Nos artigos seguintes alinhavamos respostas para estas áreas e dimensões da comunicação atual: não respostas fechadas e definitivas; antes respostas abertas e incompletas, partindo da ideia de Edgar Morin6: o único conhecimento válido é aquele que se alimenta da incerteza e que o único pensamento que vive é o que se mantém à temperatura da sua própria destruição. Sendo certo ainda, como afirma Morin: hoje, a nossa necessidade histórica é de encontrar um método que detete e não oculte ligações, articulações, solidariedades, implicações, parcializações, interdependências e complexidades.

Respostas desenhadas a pensar nos técnicos de comunicação e de relações públicas que no dia-a-dia planeiam e gerem a comunicação e que podem ter algo de útil para quem estuda e investiga a comunicação. Respostas que interessam a estudantes desta área do saber.


1 - MOLES, Abraham, Théorie Struturale de la Communication et Société, Paris, Masson, 1986.
2 - WOLTON, Dominique, Informer n’est pas communiqué, Paris, CNRS Editions, 2009.
3 - Para que exista ato de comunicação considera-se à partida a existência de um emissor, de uma mensagem e de um recetor. Considerando a passividade ou inatividade inerente ao termo recetor, preferimos o termo interlocutor, que usaremos nesta publicação. Dominique Wolton sentiu esta dificuldade o que levou a usar o termo recetor-ator.
4 - SEBASTIÁN, Carmen, La comunicación emocional, Madrid, ESIC, 2002
5 - MORIN, Edgar, La Communication appliquée aux organizations et à la formation, Paris, Demos, 1998.
6 - MORIN, Edgar, La Méthode I, Paris, Seuil, 1977.

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